Quando pensaram em recolher os diários - Pág. 272/273

Neste mesmo dia, ela cita que as pessoas achariam interessante ler os relatos de como era passar os dias lá, sem nem mesmo poder sair para dar umas voltas; do que se alimentavam e como era viver junto a sete pessoas.
A seguir, o relato de
Anne, descrito no diário:
"Mas, falando sério, até que seria
engraçado se, dez anos depois da guerra terminada, nós, judeus,
contássemos nossa vida aqui, o que comíamos e sobre o que falávamos. Embora eu
lhe conte muita coisa, você ainda sabe muito pouco sobre nossas vidas. Como
as senhoras ficam apavoradas durante os bombardeios! No domingo passado, por exemplo,
quando trezentos e cinqüenta aviões ingleses deixaram cair cerca de meio milhão
de quilos de bombas em Ijmuiden, as casas tremeram como folhas ao vento, e
quem sabe quantas epidemias grassam agora por lá. Você nada sabe a
respeito disso, e eu teria que escrever o dia todo se quisesse contar tudo
com detalhes. As pessoas têm que fazer filas para comprar verduras e tudo
o mais; os médicos não podem mais visitar os doentes, pois, mal saem de seus carros,
estes são roubados no mesmo momento; os assaltos e roubos são tão numerosos que
a gente fica a pensar sobre o que terá acontecido aos holandeses para, de
um momento a outro, se transformarem em ladrões. Crianças pequenas, de
oito a onze anos, quebram as janelas das casas, entram e roubam tudo o que
está a seu alcance. Ninguém ousa deixar a casa desocupada por cinco
minutos, pois se arrisca a encontrá-la vazia, na volta. Todos os dias aparecem anúncios
nos jornais oferecendo recompensas pela devolução de máquinas de escrever, tapetes
persas, relógios elétricos, tecidos, etc, etc. Arrebentam os relógios elétricos
das ruas, despedaçam os telefones públicos até que nada reste. O moral da
população não pode estar
alto, uma vez que as rações semanais não
chegam a durar dois dias, a não ser o sucedâneo do café. A invasão tarda a
ocorrer, e os homens têm que ir para a Alemanha. As crianças estão doentes
e mal nutridas, todas usam roupas e sapatos velhos. Uma sola nova custa sete
florins e meio no mercado negro; além do mais, sapateiro algum aceita
conserto e, quando aceita, o freguês tem de esperar por muitos meses,
durante os quais o sapato geralmente desaparece."
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